Em todas as civilizações, existe uma figura que guarda o portão entre a criança e o mundo. Não apenas um provedor ou protetor, mas alguém que carrega a estrutura, a disciplina e o significado. No Ocidente, essa figura tem sido, durante séculos, o pai. No entanto, hoje, em várias nações e classes sociais, a sua ausência — física, emocional ou espiritual — ecoa nos lares, nas escolas e nos corações.
Vivemos numa época em que a ausência paterna deixou de ser um infortúnio raro para se tornar uma norma crescente. As consequências não se resumem a estatísticas sociais, mas manifestam-se em feridas psicológicas profundas: instabilidade de identidade, ansiedade sem direção, uma procura por autoridade onde nenhuma é oferecida. Não se trata apenas de uma crise familiar. É uma crise de formação.
A Forma do Pai
Na tradição ocidental, ser pai nunca foi um papel casual — é um arquétipo. O pai é aquele que nomeia, que disciplina, que abençoa. Ensina à criança de onde vem e, ao fazê-lo, sugere para onde pode ir. Seja pela clareza severa da virtude romana, pela força silenciosa do serviço cristão, ou pelo exemplo nobre do dever cavalheiresco, o pai ocidental foi, em tempos, uma pedra angular do crescimento.
Contudo, na vida moderna, a imagem do pai foi diminuída — ridicularizada, posta de lado ou apagada por completo. No entretenimento, é frequentemente retratado como tolo ou fraco. Na academia, é descrito como fonte de opressão. Na lei, a sua autoridade é vista com desconfiança. E em muitas famílias, está simplesmente ausente.
A criança que cresce sem uma presença paterna forte tem de construir a sua identidade sem andaimes. Procura então modelos noutros lugares — por vezes nos pares, outras vezes em ideologias, outras ainda na raiva. A disciplina torna-se algo imposto por instituições frias ou perde-se no caos do impulso. O resultado não é liberdade, mas confusão.
Disciplina e Ordem Interior
A verdadeira paternidade não é dominação. É uma oferta de ordem interior. O pai ensina que o mundo tem limites, que os atos têm consequências, que a dignidade não é dada — conquista-se. Através da correção e do encorajamento, ajuda a criança a tornar-se alguém capaz de carregar o peso da liberdade.
É por isso que a ausência do pai gera não só desordem nos lares, mas também nas almas. Quando a disciplina não é oferecida primeiro com amor, mais tarde será imposta sem ele — pelos tribunais, pelos vícios ou por figuras de autoridade bem menos misericordiosas. A alma que não é iniciada procurará essa iniciação — muitas vezes pela rebeldia ou pela submissão, por vezes por ambas.
A psicologia ocidental, no seu melhor, compreendeu isto. Desde o arquétipo do pai de Jung até às etapas de desenvolvimento de Erikson, a presença — ou ausência — do pai molda a forma como alguém se torna adulto. A crise que enfrentamos não é apenas individual. É civilizacional. Uma sociedade que ridiculariza ou abandona a paternidade não consegue formar cidadãos maduros.
Restauração
O que se exige não é nostalgia, mas restauração. Chamar os pais de volta ao seu posto — não apenas no sentido biológico, mas espiritual. Formá-los novamente como homens que entendem que o amor e os limites não são contrários, mas aliados. Que percebem que educar uma criança não é uma tarefa secundária, mas um dever sagrado.
Uma cultura que honra a paternidade não idolatra os homens — chama-os ao serviço. Não idealiza o poder — ordena-o corretamente. A restauração da paternidade não é um projeto lateral na renovação nacional — é o seu alicerce. Porque toda a criança precisa de alguém a quem olhar com admiração. E toda a nação precisa de homens que compreendam o que significa manter-se firme à porta entre o caos e a ordem — e convidar a próxima geração a atravessá-la.